Durante o processo de construção do texto de apresentação da feira nos deparamos com a necessidade de ir atrás de materiais e referências para embasar a escrita. Nesta busca surgiram alguns materiais muito interessantes que queremos compartilhar.
Um dos primeiros textos foi uma entrevista com Silvia Federici sobre o livro Caliban y la Bruja (infelizmente sem tradução para o português) que nos inspirou a trazer a imagem da bruxa para compor a temática da feira. Neste livro ela refuta a ideia de que o capitalismo foi uma evolução natural do sistema feudal da idade média e argumenta que ele foi uma contra revolução, uma forma de conter as revoltas populares e camponesas da época. Sendo que a Inquisição e a caça às bruxas serviram para reprimir as revoltas e garantir a ascensão do capitalismo¹. A figura da bruxa perseguida pela inquisição não era a velha na floresta que sabia de plantas, mas qualquer uma que atrapalhasse a nova ordem social: invalidas, loucas, indigentes, parteiras, viúvas, prostitutas, rebeldes, lésbicas, mulheres com sexualidades diversa… Repressão essa que a autora argumenta ter visto acontecer no processo colonizador da Nigéria na década de 80 e que acontece sistematicamente em qualquer país até hoje, só que com outras roupagens. Há estimativas de que mais gente morreu nos últimos anos na África em consequência da caça às bruxas, do que em toda a Europa, alguns séculos atrás. E no Brasil, país com grandes marcas da escravidão, que culturas, religiões, pessoas e povos são perseguidas sobre a figura de bruxa, bruxaria?
Encontramos também o Manual da Inquisição, documento que compila a argumentação e procedimentos de julgamento e punição – pra quem tiver estomago forte e quiser ler. Os mecanismos que foram usados na Inquisição são os mesmos mecanismos utilizados até hoje, eles são a base do sistema judiciário brasileiro. Este outro material é uma lista de nomes de famílias e pessoas perseguidas pela inquisição em Portugal e no Brasil.
Dentro dessas várias referências de textos, encontramos na figura bruxa uma forma de discutir feminismo diretamente ligado a questões de autonomia e resistência.