Partimos das nossas diferentes experiências para fazer um chamado à construção da 1ª Feira do Livro Feminista e Autônoma de Porto Alegre, entre os dias 30 de outubro e 2 de novembro de 2015. Um espaço que se proponha a ser coletivo e plural na escuta e nas expressões das nossas diferentes vivências feministas, onde possamos nos encontrar para a troca de publicações, materiais, ideias e saberes. Esta é uma iniciativa feminista para afirmar a nossa presença no tempo e na história, problematizando o que é dito, como é dito e por quem é dito. Por isso a feira se posiciona de maneira autônoma em relação ao mercado editorial, ao estado, ao capital e a todos os lugares onde o patriarcado se reproduz. Arranquemos os tentáculos das esferas institucionais que produzem mentes e corpos!
Vemos numa feira a possibilidade de trocas na presença, um encontro que faça florescer resistências e circular ideias. Propomos fazer isso especialmente a partir dos livros, para que nossas palavras tenham eco para além da solidão e virtualidade das telas. A experiência do encontro e a materialidade do livro nos transformam, gerando outras relações com a vida e com as ideias que fazemos dela: é preciso lembrar, imaginar e criar. A escrita é uma linguagem privilegiada para registrar nossa memória de resistência, e daquelas que já percorreram caminhos similares antes de nós, lutando assim contra o apagamento e silenciamento das nossas vozes. Por isso fazemos esta feira: para (re)editar livros, conversar sobre eles, escrever, traduzir… Recuperando historias, contando as nossas próprias, resgatando conhecimentos, criando novos mundos.
O impulso de compartilhar e debater através da escrita tem movido feministas a gerações como forma de resistência e construção de autonomia. Não podemos ignorar ou esquecer experiências que são fortes, nem sempre fáceis de contar porque também carregam dor. Incontáveis mulheres foram reprimidas, censuradas, perseguidas e mortas pelo que escreveram ou pelo que foi escrito sobre elas em livros. Uma imagem importante usada ao longo da história para este fim foi a da bruxa, um símbolo que continua sendo construído de forma a justificar violências misóginas. A bruxa está associada a figuras femininas que se dedicam a compartilhar conhecimento, caçadas por promover espaços de encontro nos quais seus saberes são transmitidos, e incriminadas por serem mulheres que se relacionam de outra forma com seus corpos, sua saúde, sua sexualidade. São aquelas que colocam em risco a ordem vigente e não servem ao processo do capital: elas têm poder sobre si mesmas.
Mecanismos de poder buscam sistematicamente assimilar as diferentes formas de existir, cercando as ideias, os espaços e os corpos para que se enquadrem dentro de um sistema que perpetua múltiplas opressões. Apesar disso, a resistência continua acontecendo através de práticas autônomas ao estado, ao mercado, ao patriarcado. Construímos coletivamente nossa autonomia fortalecendo mecanismos de apoio mútuo, compartilhamento de conhecimentos, autodefesa e confiança em nós mesmas.
Este é um chamado para aquelas que desejam construir esta Feira do Livro Feminista e Autônoma horizontalmente, com corresponsabilidade e cuidado para garantir encontros e vivências a partir das diferenças e construir autonomamente os meios para que mulheres se encontrem e troquem entre si.