Traz tuas propostas!

A construção da 1ª Feira do Livro Feminista e Autônoma surge da vontade de criar espaços pra trocar, difundir, semear e resgatar conhecimentos e histórias protagonizadas por mulheres. Por isso, fazemos um convite aberto a todas as mulheres interessadas em somar com intervenções literárias, sonoras, orais, poéticas, teatrais, visuais…

Traz tua proposta de bate-papo, oficina, filme, debate ou seja qual for a tua ideia pra colaborar com a FLIFEA, levando em consideração que nos propomos a construir um espaço onde todo feminismo seja respeitado e todas as mulheres tenham visibilidade, caminhando na direção contrária das armadilhas capitalistas e Estatais que nos cercam.

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Algumas referências

Durante o processo de construção do texto de apresentação da feira nos deparamos com a necessidade de ir atrás de materiais e referências para embasar a escrita. Nesta busca surgiram alguns materiais muito interessantes que queremos compartilhar.

Um dos primeiros textos foi uma entrevista com Silvia Federici sobre o livro Caliban y la Bruja (infelizmente sem tradução para o português) que nos inspirou a trazer a imagem da bruxa para compor a temática da feira. Neste livro ela refuta a ideia de que o capitalismo foi uma evolução natural do sistema feudal da idade média e argumenta que ele foi uma contra revolução, uma forma de conter as revoltas populares e camponesas da época. Sendo que a Inquisição e a caça às bruxas serviram para reprimir as revoltas e garantir a ascensão do capitalismo¹. A figura da bruxa perseguida pela inquisição não era a velha na floresta que sabia de plantas, mas qualquer uma que atrapalhasse a nova ordem social: invalidas, loucas, indigentes, parteiras, viúvas, prostitutas, rebeldes, lésbicas, mulheres com sexualidades diversa… Repressão essa que a autora argumenta ter visto acontecer no processo colonizador da Nigéria na década de 80 e que acontece sistematicamente em qualquer país até hoje, só que com outras roupagens. Há estimativas de que mais gente morreu nos últimos anos na África em consequência da caça às bruxas, do que em toda a Europa, alguns séculos atrás. E no Brasil, país com grandes marcas da escravidão, que culturas, religiões,  pessoas e povos são perseguidas sobre a figura de bruxa, bruxaria?

Encontramos também o Manual da Inquisição, documento que compila a argumentação e procedimentos de julgamento e punição – pra quem tiver estomago forte e quiser ler. Os mecanismos que foram usados na Inquisição são os mesmos mecanismos utilizados até hoje, eles são a base do sistema judiciário brasileiro.  Este outro material é uma lista de nomes de famílias e pessoas perseguidas pela inquisição em Portugal e no Brasil.

Dentro dessas várias referências de textos, encontramos na figura bruxa uma forma de discutir feminismo diretamente ligado a questões de autonomia e resistência.

Chamada de cartazes

A divulgação da 1ª Feira do Livro Feminista e Autônoma de Porto Alegre, assim como toda sua construção, está aberta para receber colaborações de todas aquelas que se sentirem chamadas a somar nesse processo. Estão todas convidadas para criar, compartilhar sua arte e ajudar a convocar outras para este encontro que vai rolar do dia 30 de outubro ao 2 de novembro de 2015!

Mande sua arte!

Se for possível em formato png ou jpeg (pensando em impressão de cartaz em tamaho A3)

chamada cartaz

1ª Feira do Livro Feminista e Autônoma de Porto Alegre!

Partimos das nossas diferentes experiências para fazer um chamado à construção da 1ª Feira do Livro Feminista e Autônoma de Porto Alegre, entre os dias 30 de outubro e 2 de novembro de 2015. Um espaço que se proponha a ser coletivo e plural na escuta e nas expressões das nossas diferentes vivências feministas, onde possamos nos encontrar para a troca de publicações, materiais, ideias e saberes. Esta é uma iniciativa feminista para afirmar a nossa presença no tempo e na história, problematizando o que é dito, como é dito e por quem é dito. Por isso a feira se posiciona de maneira autônoma em relação ao mercado editorial, ao estado, ao capital e a todos os lugares onde o patriarcado se reproduz. Arranquemos os tentáculos das esferas institucionais que produzem mentes e corpos!

Vemos numa feira a possibilidade de trocas na presença, um encontro que faça florescer resistências e circular ideias. Propomos fazer isso especialmente a partir dos livros, para que nossas palavras tenham eco para além da solidão e virtualidade das telas. A experiência do encontro e a materialidade do livro nos transformam, gerando outras relações com a vida e com as ideias que fazemos dela: é preciso lembrar, imaginar e criar. A escrita é uma linguagem privilegiada para registrar nossa memória de resistência, e daquelas que já percorreram caminhos similares antes de nós, lutando assim contra o apagamento e silenciamento das nossas vozes. Por isso fazemos esta feira: para (re)editar livros, conversar sobre eles, escrever, traduzir… Recuperando historias, contando as nossas próprias, resgatando conhecimentos, criando novos mundos.

O impulso de compartilhar e debater através da escrita tem movido feministas a gerações como forma de resistência e construção de autonomia. Não podemos ignorar ou esquecer experiências que são fortes, nem sempre fáceis de contar porque também carregam dor. Incontáveis mulheres foram reprimidas, censuradas, perseguidas e mortas pelo que escreveram ou pelo que foi escrito sobre elas em livros. Uma imagem importante usada ao longo da história para este fim foi a da bruxa, um símbolo que continua sendo construído de forma a justificar violências misóginas. A bruxa está associada a figuras femininas que se dedicam a compartilhar conhecimento, caçadas por promover espaços de encontro nos quais seus saberes são transmitidos, e incriminadas por serem mulheres que se relacionam de outra forma com seus corpos, sua saúde, sua sexualidade. São aquelas que colocam em risco a ordem vigente e não servem ao processo do capital: elas têm poder sobre si mesmas.

Mecanismos de poder buscam sistematicamente assimilar as diferentes formas de existir, cercando as ideias, os espaços e os corpos para que se enquadrem dentro de um sistema que perpetua múltiplas opressões. Apesar disso, a resistência continua acontecendo através de práticas autônomas ao estado, ao mercado, ao patriarcado. Construímos coletivamente nossa autonomia fortalecendo mecanismos de apoio mútuo, compartilhamento de conhecimentos, autodefesa e confiança em nós mesmas.

Este é um chamado para aquelas que desejam construir esta Feira do Livro Feminista e Autônoma horizontalmente, com corresponsabilidade e cuidado para garantir encontros e vivências a partir das diferenças e construir autonomamente os meios para que mulheres se encontrem e troquem entre si.