Recentemente, a página Porto Alegre Cultura criou um evento no Facebook convidando para a 1ª Feira do Livro Feminista e Autônoma de Porto Alegre. Quem tem acompanhado a construção da 1ª FLIFEA-POA percebe que este tem sido um processo coletivo cuidadoso, no qual nos propomos a pensar sobre nossa autonomia em muitos âmbitos da vida, inclusive – e muito – em termos de segurança na internet.
Essas reflexões estão presentes em todos os textos publicados neste blog, e se traduzem na maneira como estamos chamando as pessoas para participar da construção da Feira, coisa que NÃO TEM ACONTECIDO ATRAVÉS DO FACEBOOK. Sabemos que essa rede social é atrativa aos olhos e aos egos, e que parece grande coisa ter milhares de curtidas ou confirmações de presença, mas pra nós é muito mais significativo garantir nossa segurança pessoal e coletiva e não nos expormos à vigilância que essa ferramenta permite sobre as nossas vidas. Dessa forma, optamos por nossos principais meios de divulgação e diálogo serem o nosso blog e o e-mail, decisão que, de forma desonesta, foi rompida e violada. A criação de um “evento” de facebook – um dos mais introjetados e naturalizados mecanismos de controle cotidiano – por parte de uma página que não tem NENHUMA relação com a organização da Feira demonstra uma tentativa explícita de captura, sequestro, assimilação e controle desta iniciativa autônoma para fins de autopromoção.
Diferentemente do que acaba ficando implícito na criação desse “evento”, assim como nos comentários que se seguiram à sua divulgação, a Feira não se propõe a tratar da luta histórica que é o feminismo como uma “tendência do momento” ou como um produto a ser consumido. E certamente não é de nosso interesse proporcionar MAIS UM espaço virtual para que os feminismos se choquem dentro da ilusão de diálogo político que o facebook cria, mas sim um espaço presencial onde nossas práticas feministas possam coexistir e dialogar – a partir do dissenso e conflito também, por que não? Por isso, inclusive, não nos interessa fazer um evento no facebook e nos parece muito oportunista que alguém passe por cima desta organização autônoma que se propõe resistente a esses mecanismos pra se promover com esse tipo de polêmica destrutiva.
Sim, temos o objetivo que a Feira seja aberta para todas, que todas se sintam livres para ir e vir nesse espaço, mas que garanta a segurança dessas pessoas presentes. Por isso, acreditamos que essa divulgação via facebook fere nossas estratégias, nos expondo em um evento público e amplamente divulgado para pessoas que podem estar ocasionalmente vinculadas a grupos com os quais não compartilhamos de uma mesma ética-política (como pudemos perceber em posts que surgiram durante as 48 horas de vida desse “evento”).
Por isso, chamamos aquelas que querem apoiar a FLIFEA a denunciar este evento de facebook, para derrubar este espaço virtual criado arbitrariamente. Para quem se identifica com a proposta da Feira e quiser se somar na construção, seguem abertos os mesmos canais de comunicação usados até agora, e segue aberta a chamada para propor atividades, até o dia 30 de setembro.